Outro dia me perguntaram como eu me sentia depois de ter recebido meu CREA. E eu creio que igual. Minutos antes do CREA, minutos depois.
O tempo em que passei na faculdade, os últimos 5 anos, teriam de certa forma o mesmo significado sem ele.
Hoje, de certa forma, vivo no mundo depois da escola de engenharia.
Ele não é o mesmo de quando eu entrei, mas até aí, nem eu.
É estranho passar 5 anos da sua vida para se ter apenas um título. Achar que o tempo o qual você passou estudando na faculdade foi só para isso. Para mim é inconcebível.
É só mais um CREA, no meio de tantos. É meu, mas ele, em si é um papel. O papel, para mim, não valeria nada sem seu passado.
A história por detrás do papel, no entanto, é especial.
Há quem pense que 5 anos são pouca coisa. Eu discordo.
Acho que eu vivi mais nesses 5 anos de faculdade do que nos outros 17 que eu tive. Chega a ser amedrontador.
Parece que foi ontem... eu sentada na mesa, na hora do almoço, num sábado, ouvindo do meu pai que da época da faculdade eu nunca iria me esquecer.
Hoje, de frente a você, eu fico feliz de dizer que não vou.
Eu não vou me esquecer do 16 de fevereiro de 2004, meu primeiro dia de faculdade. De ter chegado 7:00, mesmo a aula começando 7:30. De ter me sentado ao lado de um rapaz chamado Henrique*, e de ouvir algumas histórias de seu 3º colegial. De conhecer mais três meninas: Anne*, Marta* e Elina* e de ter feito todos os trabalhos da primeira semana com elas. De ainda no primeiro dia conhecer algumas pessoas que se tornariam minhas amigas pelos próximos anos. E de dividir com mais 3 pessoas o banco de trás de uma EcoSport rumo ao Shopping Metrô Santa Cruz. Não me esqueço de ter sido quase atropelada por um caminhão, de tentar vender uma garrafa de plástico vazia, alguns cigarros e uma caixa de Mentos aberta. E de na volta ter assustado uma senhora que estava na estação do metrô. Afinal de contas, eu não sabia o rumo de casa. Na mesma semana, conheci a Fe*, e descobri que ela morava no meu prédio. Foi bom tê-la conhecido. Quando meu tio foi internado, e eu fiquei triste, esta menina foi a única que colocou a mão no meu ombro e perguntou se eu estava bem. Do gesto dela, eu também não vou me esquecer.
Não vou me esquecer das partidas de vôlei e de vencer um campeonato inter-bixos. Só participei de 1 partida e ganhamos a final de W.O., mas realmente quem se importa? Paula* deu um chute em uma bola, que raspou no meu ombro e aterrisou do lado de lá da quadra. Na linha. Ponto. Lembro que durante a partida usei um tênis 35, calçando 37... porque de acordo com Dayse* o interesse de jogar era meu, e eu devia ter visto a data da partida. D. é uma menina muito doce, e creio que atualmente avise suas companheiras de time o dia do jogo. Sua melhor amiga, a dona do tênis, desistiu de jogar por medo de se machucar, nada que com o tempo e uns pedaços de bolo de chocolate com calda de leite condensado não resolvessem.
Não vou me esquecer de que acordei antes das 6:00 durante meus dois primeiros anos, para conseguir pegar a van que me levava até a faculdade. E não vou me esquecer do motorista Pincel, onde quer que ele esteja, por ter feito minhas tardes tão cansadas tão mais divertidas no 2º ano.
Não vou me esquecer das longas tardes que passei estudando na biblioteca, nem das noites. Que por vezes não foram produtivas no estudo de engenharia, mas me renderam alguns bons contatos.
Não vou me esquecer das aulas de desenho. Nem das do primeiro ano, com aquele caráter maroto, de pessoa ingênua, que nunca desenhou na vida sem régua (até hoje eu não desenho), e nem das do segundo (apesar de que aqui, minha visão era um pouquinho melhor). E nem das pessoas que conheci, e nem das outras que também cursaram a matéria Desenho como dependência, que por sinal eram colegas do primeiro ano, quem não era se tornou colega do segundo ano.
Não vou me esquecer do dia em que V1/V2 = 2,96. Eu achei a resposta sem achar nenhum intermediário. E provavelmente foi uma das únicas vezes em que não contornei o que pude para chegar na resposta certa. Meu professor achou minha resolução genial. Eu só me aproveitei do fato de que podia achar m1/m2 em uma equação dividindo os dois lados dela por m2, e fiz relações com as densidades. O professor é engenheiro. Eu só gostava muito de matemática. Incrivelmente acabei descobrindo que a menina que vivia grudada no namorado não era tão chata afinal, e com o passar do tempo, ela se tornou uma das minhas melhores amigas. É a sinceridade sagitariana, prazer em conhecê-la.
Conheci muitas meninas e conheci muitos meninos. E em 2006 acabei sendo introduzida ao que seria, com algumas ressalvas, a turma de Engenharia Química de 2008.
Não vou me esquecer das Festas dos Barões. Na primeira delas conheci a Mariana*, e fiquei amiga da dita cuja desde então. Menina de gênio forte. Amiga que me chama de bibelô de estante, pode? Bom, se você me conhecesse saberia que não tenho cara, muito menos porte, muito menos jeito de bibelô de estante.
Não vou esquecer do jogo de futebol entre as meninas da minha sala. Ninguém sabia jogar nada e ainda me apelidaram de "Isola" porque eu só jogava a bola para as laterais de campo. Bem, a minha teoria era a seguinte: se não sabe jogar com a bola andando, tente jogar com a bola parada. Fiz 2 gols... uma do meio do campo, porque quando eu chutei todas as meninas desviaram da bola, inclusive a goleira. O outro gol eu fiz logo depois de alguém ter gritado "não chuta" para mim. Minha intenção era isolar a bola, mas se foi gol, melhor, não? Lembro que uma das goleiras sentou na bola e eu fiquei com a perna direita marcada devido ao chute de Roberta*. Creio que os anos de ballet dela a fizeram muito bem.
Não vou me esquecer da tentativa de reunir a sala em um churrasco na casa de uma colega. Foi uma luta para pegar um bendito espetinho. Um cara "x" escorregou na frente do barril de chopp. Elaine*, bêbada, chamou Lara* de bêbada. O que é ridículo pois L. é muito tímida e muito recatada. Passou meia hora me perguntando se havia algo de errado com ela. E para explicar que não? Bem... E. é doida, mas é bacana, e depois creio que tenha pedido desculpas.
Não vou me esquecer da amiga do CNA. Ela foi um conforto quando precisei. Ela me ensinou piadas sujas como a de bater palma, mas sempre me ofereceu riso. Hoje, não guardo contato com ela, mas eu sei que não vou me esquecer.
Não vou me esquecer da viagem para a usina de cana e açúcar, 2007. Chegamos em Ribeirão Preto e encostamos no Pinguim. Comemos pizza e bebemos cerveja com os professores. Conhecemos umas pessoas da Engenharia Química do noturno. Bacanas. Fomos para o hotel. Conversei até. A recepção nos chamou a atenção porque o quarto fazia muito eco, e nós estávamos falando e rindo muito alto. Passeamos na usina. Liliane machucou o pé, e no final levamos um lanche para ela. Paramos no Serro Azul. Comemos um pouco, chegamos na faculdade, fomos para casa.
E principalmente não vou me esquecer de 2008. Dos e-mails de turma para irmos aos churrascos de formatura, para fazermos uma camiseta do grupo, para trocarmos fotos, para recebermos informações sobre os eventos que se acontecem semana que vem. Das conversas com o Carlinhos* nas aulas de materiais. Dos vídeos que fizemos nas aulas de cosméticos. Eu, a Ariane*, a Marina* e a Tina*. Não me esqueço da Tina sempre tão sossegada nas aulas. Nem das caras de calça-suja da Marina. Impagáveis. Dos cosméticos que deram certo, e outros nem tanto. Dos experimentos para a elaboração do trabalho de graduação, que deram e não deram certo. Das broncas do orientador, mas também das conversas e conselhos dele. Não vou me esquecer do Daniel* e do Rodrigo*, sempre fazendo câmbio comigo nas provas. Nem do Vinícius. Nem dele, nem do U, mas a do U fica para um conto em uma mesa de bar.
E de todos os meus colegas. Tão únicos e tão cheios de histórias. Que me irritaram bastante, mas me fizeram perceber a importância de um grupo unidade.
Por mais que fôssemos diferentes, sempre tive alguém para me ajudar, e também nunca neguei ajuda aos meus colegas.
Isso me fez crescer, me fez melhor.
Definitivamente hoje, aos 22, não sai a mesma pessoa que entrou aos 17. Mesmo que ainda procurando por alguma coisa.
Procurar, infelizmente ou não, faz parte da minha própria natureza. E por mais que eu não venha a utilizar meu CREA, nunca poderei dizer que joguei 5 anos de vida fora.
Neles eu fiz alguns amigos. Consolidei outros de tempos atrás. E percebi muito mais sobre a natureza humana. Nada disso seria possível se eu estivesse sozinha.
Aos 22 eu não procuro mais ser alguém para os outros. Eu sou eu mesma. Infelizmente sincera, bruscamente espontânea, incuravelmente idealista, mas estranhamente satisfeita. Extremamente admirada. Potencialmente feliz.
E por isso eu agradeço pelo meu curso, e pelo apoio dos meus verdadeiros amigos, e pelo empurrão dos meus pais.
Hoje se eu choro de saudade, daquela saudade feliz, é porque tudo valeu a pena. E isto é bom, porque eu faria tudo outra vez.
*Não vou revelar os nomes das pessoas, visto que eu não revelo nem o meu próprio. Acreditei que não seria justo.
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