- Autora, creio eu que estás tentando sabotar o projeto inicial do diário eletrônico.
- Não! Como?
- Andaste comentando sobre o endereço.
- Oh... sim. Enganei-me, oras.
- Então se trata de auto-sabotagem.
- Ou não. O endereço é público, assim como o domínio!
- Autora...
- Tá bem, tá bem... mas eu acabei por esquecer que aquele papel era o que continha o endereço!
- Esqueceste? Como esqueceste? Tu marcaste aquilo, em primeiro lugar!
- Sim, eu sei. Eu não esqueci o endereço! Esqueci o papel onde tinha marcado!
- Pensas que minha vida é fácil? Além de toda a senhora reclamação que fazes de tempos em tempos, eu ainda tenho que agüentar teus esquecimentos!
- Não. Eu sei que não é fácil. E eu sei que eu deveria ter me lembrado disso, mas esqueci. Não adianta reclamar. E vai marcando aí que a trema vai sair de uso em 2009.
- Claro. Eu apenas publico. Tu escreves. E aquela pessoa sentada naquela cadeira lê tudo.
- Eu também leio!
- Sim, mas tu usas para alguma coisa.
- Concordo... mas e agora? Contei o endereço...
- Agora te assuma como és!
- Eu sempre fiz isso!
- Ok, autora... entendi que a Senhorita necessitará de mais alguns posts.
- Mas... eu...
- Entenda, queridinha.
- Queridinha, não. Você está sendo falso!
- Lógico! O trato era: o endereço se mantém em segredo, porém como todo segredo, será tratado de forma corriqueira. Tu não cumpriste o trato.
- Eu não assinei nenhum termo. Sinceramente, criei você e está sendo muito mal-agradecido.
- O hífen também cairá em 2009, autora!
- Problema dele! Sabe... entendi o seu problema.
- E posso saber qual foi a conclusão ridícula que tiraste de tudo?
- Talvez eu tenha praticado auto-sabotagem mesmo. Olha. Pensa comigo, são 4 pseudo-selfs apenas no título!
- Chuva, pára de me distrair.
- Certo, como você não está no título, você é imune ao meu charme.
- Não, não sou, mas cessa com isso. E eu não ESTOU no título, eu SOU o título.
- Você não é self! Você é o veículo!
- Estás falando comigo, não? Então eu me tornei um self! Eu sou o que tu queres que eu seja, e tu queres que eu seja um self!
- Não! Eu não quero!
- Te distraí, hein pequena?
- Eu não sou pequena! E eu posso ter dado o endereço sem querer, mas já foi, e não tem como voltar atrás.
- Tu não precisas ter medo dos leitores.
- Não é dos leitores que tenho medo, blog.
- É... deles em si não, mas das reações deles...
- Sim... eu tenho...
- Pensa... do pó vieste e ao pó voltarás... tranqüiliza!
- Nossa... que romântico!
- Sexy, diria a Tempestade!
- Shhh, ela tá dormindo...
- Só tu estás acordada!
- Eu sei, eu sei... mas é nesse horário que consigo pensar melhor. Quando o Sol não faz teatro, quando a Lua não arruma as coisas, para desarrumar depois, quando a Tempestade não começa a apertar todo mundo pela casa. Sabe... outro dia ela deu um tapinha na careca do pai dela! Ela anda maluca!
- Vós sois inversamente proporcionais. Quando mais melancólica tu te encontras, mais elétrica ela se projeta. Vós trabalhais como se se compensassem.
- Tipo o Sol e a Lua?
- Não... o Sol é inseguro. A Lua ajuda ele a ser inseguro, apesar de ninguém ver o que realmente existe de errado com ele.
- Ele é meio teatral, você não acha?
- Sim, mas a Tempestade também. Eles só pertencem a tipos diferentes de teatros.
- Hein?
- A verdade é que eu não vejo muita diferença entre o Sol e a Lua.
- Ah... eu vejo.
- Qual?
- O Sol quer que todos pensem que ele é forte, que ele não chora e que ele agüenta qualquer tranco, mas na verdade, ele é tão sensível quanto nós.
- È vero.
- Você fala italiano?
- Não. Eu lembro uma palavra ou duas.
- Quem ensinou?
- Eu sou teu monstro!
- Oh... monstro não!
- E agora um monstro que corre o risco de ser pego pela polícia, visto que tu deste com a língua nos dentes!
- Não fui eu...
- A Tempestade, aquela perua! Que seja! Só porque ela não posta com tanta freqüência!
- Tenhamos calma. Nada que tenha sido dito aqui, não foi dito de verdade.
- Ao menos!
- Tá, tá... mas o que podemos fazer agora?
- Nada. É deixar ler! Tu te endereças a um possível leitor no post, não?
- Siim! Entretanto há diferença. Agora eu tenho certeza da possibilidade de um leitor. Possibilidade que era remota!
- Do que tens medo?
- Ah... de muitas coisas. De altura, de carbonizar algum dedo, de...
- Ser incompreendida?
- Talvez...
- Não devias ter medo disso.
- Né? Já o fizeram por tempo bastante, não?
- Sim, mas porque deixaste. Tu sabes, ou pelo menos tens uma boa noção, do teu caráter, mas tens medo dele. O porquê, eu realmente não sei.
- Eu não consigo fazer nada pela metade, meu amigo.
- Sim, mas quando a intensidade encontra o exagero?
- Eu afundo...
- Devias conversar comigo mais vezes!
- Eu converso! Na minha cabeça eu converso...
- Isso foi controverso! Nós coexistimos numa mesma cabeça!
- Ahhhh... você me deixa louca!
- Eu sei... por isso adooooro essa vida!
- Hã... tá...
- Tu és intensa, sim e muito, mas muito exagerada. Tu não compreendes todo mundo, mas a tua vantagem é que desejas isso do fundo do coração. Só que, por vezes, tentas impor alguma coisa, mesmo que seja a vontade de manter uma opinião.
- Certo...
- Só que, tente seguir meus passos, sim?
- Sim.
- Quando asseveras de forma tão clássica e contundente a tua opinião, não seria como se tivesse impondo a mesma para o ouvinte?
- Sim, mas como eu vou conseguir me expressar em um meio-termo?
- Não sei, pequena! És a única que tem a chave.
- Aiai... tô sentindo que a chave está atrás do arco-íris.
- Não. Sabes que não. Qual é o único lugar que não conseguimos enxergar perfeitamente?
- Puts...
- Já foste Isabel, Camila, Meg e até mesmo João. Talvez João tenha dado uma melhor perspectiva...
- Sim.
- Procure naquilo que não foi dito, naquilo que só pode ser sentido. Tu conheces responsabilidade, sorte, esforço, abandono... não é vergonha ser assim...
- Ninguém quer ver isso.
- Sim e não. Tua imagem sarcástica chega a ser irritante por dias, é chato.
- Mas as pessoas não preferem ver isso?
- Você preferiria?
- Não estou falando de mim.
- Estás sim. Esse é teu mundo. Tua criação. O que queres ser? A menina com a resposta na ponta da língua? Não foi a menina quem conquistou isso tudo. Não foram as risadas todas. Elas ajudaram, mas quem cativou tudo isso foste tu.
- Isso é parte de quem eu sou!
- Não é, não! É parte do mecanismo de defesa. Assim como aquele sobre o qual conversamos.
- Qual?
- João e Isabel!
- Ah, tá.
- Se quiseres saber... eu prefiro... e tu também... aquela pessoa que vive sonhando, cantando, ouvindo, pensando sobre qual árvore seria melhor para imaginar durante uma sessão de relaxamento...
- Eu não gosto de sessões de relaxamento!
- Eu devia ter acabado na bronca sobre o endereço! Está tarde!
- Tá... mas eu não gosto muito de relaxar...
- Por quê?
- Porque eu fico triste, ué!
- Hum... não! Lembra da praia?
- A praia fria?
- Siiiim!
- Durante a noite ou durante o dia?
- Considerando que durante o dia, estavas com um olho no mar e outro nos peixes...
- Mais ou menos... depois que os peixes foram embora...
- Tá... essa fala foi inteiramente sem sentido, mas... continuando, tu gostas de relaxar, mas tu tens dificuldades em relação a isso, pois te concentras demais para relaxar, e o objetivo de relaxar não é esse.
- Sim... mas então eu devo deixar de pensar?
- Pensar não! De tirar conclusões precipitadas... isso apenas te irrita.
- A se pensar...
- Então... mas não precisas ter vergonha de nada, visto que todos erram. Lembra do Goodyear?
- Sim... mas...
- Serviu para alguma coisa, não?
- Verdade.
- Então... teu pai disse uma coisa, que eu concordei.
- Ai... qual?
- Tens um jeito de lidar com as pessoas. É só teu.
- Todos são assim!
- O intuito do diário não era falar dos outros!
- Nem me gabar!
- Não é elogio! É constatação, besta!
- Não precisa ofender!
- Preciso. Preciso dormir também, mas tu não permites!
- Conclui por favor, então! Daí vamos nós dois dormir!
- O fato é... tu detestas mentir, até mesmo quando precisas. Só mentiste recentemente...
- CONCLUI!
- Não existe necessidade de tentar ser quem não é. Tu trabalhas com criatividade e raciocínio lógico ao mesmo tempo! Não tem porquê afogar uma das duas características.
- Não?
- Elas trabalham juntas! Não se anulam!
- Ok... farei uso disso... mas o que tem a ver com mentira?
- Não sei! Eu trabalho com um jeito cíclico de pensar que na cabeça faz um sentido perfeito!
- Tá... você quer dizer que eu não preciso deixar de dizer tanta coisa, já que eu não gosto de mentir. É isso?
- Gostei do jeito que pensaste...
- Mentir não é omitir.
- Não, mas omitir está na metade do caminho. Não é certo esconder tudo de todos e depois jogar como se fosse uma torta na cara.
- Eu não escondo tudo!
- Justo. Só o que consegue, o que achas que ninguém apreciará.
- Sim...
- É um mecanismo de defesa, mas que não se provou muito efetivo. Ou erro?
- Hoje você está acertando todas...
- Eu sei... aliás... a árvore é cerejeira, mas no pensamento é uma cerejeira enorme, perto de um rio que se localiza entre duas montanhas.
- Isso foi golpe baixo!
- Ninguém mandou contar o endereço!
terça-feira, 27 de maio de 2008
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