quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O desabafo de Meaghan

Eu pretendia ir dormir, mas não posso. Esse é o décimo texto que escrevo, a diferença é que ao contrário de seus antecessores eu pretendo publicá-lo.
Eu gostaria de ser alguém que reclama menos, que chora menos, que se confunde menos. Entretanto em algum lugar de uma tradução eu me perdi.
Os pensamentos não são mais fluidos. São entrecortados e competitivos.
Parece que existem trinta pessoas dentro da minha cabeça e elas gritam desesperadas, frenéticas e suplicantes. Todas ao mesmo tempo.
A quem devo ouvir?
O que devo fazer?
E se é realmente uma competição, qual deles irá ganhar?
Durante o dia eu rezo pela noite, e durante a noite eu preciso descansar, mas não consigo. Eu espero toda segunda-feira pela noite de sexta-feira, mas de certa forma, sem culpados, sem precisão, alguma coisa mudou.
Quem sou eu?
Chamam-me de sincera, de amiga, de arrogante, de rebelde, de inteligente, de radical, de indecisa, de rude, mas será que eu sou isso tudo?
Outro dia uma colega me disse que eu me colocava "para baixo". Como se eu sempre tentasse diminuir quem eu sou, mas se eu não sei, como eu posso reduzir? Quem está precisando de óculos aqui? Ela ou eu?
Diz-se que estou apaixonada. Por um garoto, e por favor não ria, pois é sério. É quase uma acusação tratando-se de uma conversa sobre mim. Justo eu.
Ou eu não gosto de ninguém, ou eu gosto... eu sempre achei que no fundo gostava de todos, mas já fizeram imensa questão de assertar o contrário. Quem está certo?
Será que eu sou tão insensível e tão repugnante a ponto de ser capaz de amar ninguém mais além de mim?
E você, leitor, pode até dizer e responder em sua cabeça que sim, pois eu só escrevo sobre mim mesma por aqui. E eu me concedo um direito de resposta: se eu não sei quem eu sou, e isso é um problema, não é natural que eu queira resolvê-lo? Que sendo um grande problema, e um problema que não se manifesta de forma isolada, mas envolve quase todos os setores da minha vida, não é normal, comum, que eu queira solucioná-lo? Obviamente é um problema que me consome muito tempo. Tempo, você vê, é precioso.
Ninguém valoriza as sextas-feiras, dia de Ivete Sangalo, as tardes de sexta-feira ensolaradas até que finalmente elas se acabam. Até o dia em que sexta-feira é aquele dia em que você espera silenciosamente pelas 17:00. E você ouve o jornal, para ver qual via é a mais apropriada para voltar para casa, evitando o trânsito.
Eu tenho saudades delas. De "Coleção", de "Alô, paixão" e "Eva". Elas continuam no CD, mas o CD não tem mais a mesma graça, a mesma ênfase, a mesma alegria de antes, porque a sexta-feira anoiteceu.
O fim de semana se reduziu ao domingo cinzento no qual semanalmente eu freqüento aquele posto da Barra Funda.
E as viagens de fim de semana se tornaram esparsas e entediantes. Noites em um quarto de hotel cinzento. Eu não gosto de quartos cinzentos. Eu gosto de quartos cheios de imagens.
E eu me pergunto quem sou eu?
Pergunto a ponto de atormentar até outras pessoas, meus pais, meus amigos. Por mais que eles me escutem, e internamente se irritem com minha lentidão e fracasso na procura da resposta, apenas eu posso responder essa pergunta. Só que isso não está nos livros. Machado de Assis, Eça de Queiroz, Sir Conan Doyle não escreveram sobre isso.
E por que a menina que me olha no espelho, aquela de cabelos longos tem olhos grandes tão tristes? Sempre tão cansados?
Quando foi que ela se tornou tão triste?
E por que ela só olha triste para mim? E só eu percebo o quanto ela está triste?
Todo mundo diz que isso é normal, que as pessoas se questionam, que todo mundo passa por isso, que ninguém realmente sabe o que quer fazer, e que isso passa. E eu acho isso uma grande besteira. Se todo mundo soubesse, saberia evitar. Se fosse tão comum, haveria compreensão.
Não é como se eu quisesse uma vida nova. Fazer sempre uma coisa diferente porque estou "de saco cheio" da programação que tenho. Eu queria entender o porquê. De tudo. De agir desse meu jeito, de pensar tanto desse meu jeito. Quem foi que criou tudo isso e por quê?
Eu não quero outra vida, eu quero a minha. Não adianta me oferecer outra. Uma em que eu ganhe mais dinheiro, ou tenha mais amigos. Eu não vou trocar. Entretanto, ofereça-me uma em que eu possa exteriormente entender, sentir-me-ei tentada a aceitar.
Não é difícil realmente entender uma pessoa, não é difícil me agradar. Um abraço é capaz de agradar qualquer pessoa, desde que você não esteja precisando de um banho. Eu realmente não quero que alguém me entenda. Eu não sou um problema de matemática ou o seu verbo de ligação preferido, mas não é difícil me entender, só é sempre tão fácil adotar uma postura genérica. Amiga, isso acontece com todo mundo, entra na fila. Se você entra na fila, perguntam o porquê de se estar jogando tempo fora. Tempo, tempo, tempo! Pra que pressa?
Eu não estou saturada. E eu não mudei.
Eu sempre fui desse jeito tão torto. A diferença é que antigamente eu era mais feliz. Eu tinha mais objetivos e eu ouvia mais as músicas da Ivete Sangalo. E eu também sabia disfarçar todos os meus defeitos de forma eficiente, mas por alguma razão, não sou mais assim.
Saudades!
Eu queria ir dormir, mas não consigo.
Qual o problema? É o garoto? Não, não é, deveria ser?
Só porque nos falamos tanto? Conversamos tanto? Não, não é, mas ele me faz sentir como se eu realmente merecesse um cuidado. E ao que parece ele se importa. E eu retribuo, ele merece. Carinho e compreensão, até amor, não é isso que todos pensam. É amizade. Eu não diferencio amor e amizade. Talvez seja um erro, e eu devesse, mas não consigo. Agora eu não consigo. E na realidade, não quero. E não seria um erro me apaixonar pelo garoto só porque me olha dentro dos olhos quando fala comigo, porque se preocupa quando vou dirigir na chuva e me diz tão romanticamente "olha, sério, se você chorar agora, eu vou te bater, eu vou ficar bravo". Pelo que eu relato parece, mas não é. Eu gosto dele e da situação, mas não é nada relacionado a romance. Nem seria certo, mas essa história merece uma dose de paciência para contar.
Eu queria ter paciência agora, mas não tenho.
E talvez eu seja como o amor? O amor é incoerente e quer estar em todos os lugares. Isso eu sei que eu sou, mas eu não sou o amor. O amor é tão positivo e tão ideal. Eu sou idealista, mas táctil. Queria eu ser igual ou como, ou mesmo um pedacinho de amor... tão bonito e tão inspirador, mas está tarde e eu preciso dormir. E algo me diz que não serei assim, por algum tempo.
Eu preciso dormir e sonhar com flores bonitas. Quem sabe hoje talvez eu consiga.